quarta-feira, dezembro 03, 2008

Dezembro

Há dias assim. Mais difíceis que outros. Dias em que me sinto perdido. Ainda mais perdido do que nos restantes dias em que atravesso este labirinto. Sinto que a saída está lá, apenas à espera de ser descoberta. Encontro muitos becos sem saída, mas dou logo meia volta e sigo em frente. Esses becos sucedem-se, mas os caminhos correctos para a saída também. Passo por alguns pontos em que encontro a motivação que necessito para seguir em frente. Infelizmente eles têm logo que ficar para trás e continuo isolado o meu trilho. Isolado , mas com a vantagem adicional dos bons momentos passados e a esperança nos que se seguirão. Encontro inúmeros obstáculos, mas que toda a gente também tem que enfrentar. A grande distância do ponto de partida sinto falta do que deixei, mas sei do fundo do meu coração, que já falta pouco para voltar. Voltar para poder recarregar esta bolsa de oxigénio que se vai esvaziando à medida que o tempo passa. Nesse caminho, no meio do deserto, encontro uma pequena flor. Tão pequena e aparentemente insignificante, mas que para mim me dá um alento inesperado que nunca pensei vir a encontrar. Levo-a comigo na viagem, embora saiba que muito em breve irá murchar. Pelo menos, se o caminho ainda for longo e não a conseguir voltar a plantar. Por enquanto vamos seguindo este trilho e deixando atrás de nós a marcação do caminho por onde viemos. Em último caso, de desespero, sempre será possível voltar atrás. Não é que pense muito nisso, mas mais vale prevenir. Acabei de encontrar um novo beco sem saída. Volto atrás e aponto numa nova direcção. É menos um beco que terei de voltar a enfrentar.

2 comentários:

Anónimo disse...

A isso se chama viver. Esta lufa-lufa constante e incerta. O problema está em nós, na forma como encaramos o caminho e a chegada. Ela parece-nos a solução única para sermos felizes. Mas não creio. Porque nunca ninguém nos garantiu que íamos sair do labirinto. O contrato tem muitas omissões, apenas uma certeza: viemos. O segredo estará em fazermos o caminho, com avanços e recuos, com um sorriso nos lábios e o desafio a correr-nos nas veias. Sofremos? Sim, muito. Mas nenhuma cláusula nos garantiu que não iríamos sofrer. As pequenas vitórias, dispersas no tempo, saberão tanto ou melhor que uma grande, num momento que não se sabe eterno.

As flores... haja arte para as saber colher, para as saber tratar e arte, sobretudo, para não as colher, por sabermos que mais À frente vão murchar. Altruísmo, amor...

Acompanho-te... sempre, com um mapa por vezes pouco esclarecedor mas com a força para que as pernas não fraquejem ao final de um dia de caminhada árdua.

Anónimo disse...

Não sei quem é a Ana Ferro, mas inspirou-me bastante para o momento que atravesso e que o David o conhece bem, por o ter percorrido também ! Parabéns por estas mágnificas palavras!

Márcio Silva