terça-feira, setembro 22, 2009

(I)Mobilidade social


"Tenho 18 anos, acabo de tirar a carta e por isso é normal que queira levar o carro para todo o lado". Foi esta frase proferida hoje por um jovem às câmaras da SIC, numa reportagem sobre a Semana da Mobilidade, que deu o mote para este meu post.

Tal como alguém respondeu ao meu tweet "talvez até consiga perceber o puto. (...) também preferiria ir confortavelmente no seu carro, lavadinho, a cheirar a ambientador, sentadinho. Eu preferiria, com certeza." Eu também! E cada pessoa tem direito a isso mesmo, fazer as suas escolhas. Se tem vontade e capacidade financeira para isso, ou mesmo que não tenha, isso é lá com ela. Não venham é depois queixar-se das crises, dos impostos, do preço dos combustíveis, "and so on"...

Também acho que isto da Semana da Mobilidade ou do Dia sem Carros é mais uma daquelas iniciativas politicamente correctas, que ficam bem dizer que são feitas, não importa qual a adesão ou consequências. Isso para mim é realmente o menos importante para cumprir os objectivos pretendidos. Eu concordo é com o aumento dos impostos sobre os combustíveis fósseis, criação de portagens na entrada das grandes cidades, subida dos preços dos lugares de estacionamento e redução do número dos mesmos nos centros históricos. Criação de mais vias exclusivas para transportes públicos colectivos e ciclovias. Também acho interessante a ideia da criação de vias exclusivas para veículos com mais de uma pessoa a bordo, mas apenas em algumas estradas periféricas e que tenham acesso a interfaces com transportes públicos. Mas será que isso pode realmente mudar as mentalidades? Cada pessoa tem a sua forma de pensar, mas acho que todas estas regras poderão condicionar a forma como certas pessoas se comportam e evitar que prejudiquem a vida dos outros, com alguma consciência social e ecológica.

Eu próprio, aos 18 anos também tirei a carta e tinha o carro parado à porta de casa. Tinha noção que tanto para mim como para a sociedade em geral, o facto de eu ir sozinho na viatura, acarretava custos acrescidos, perfeitamente evitáveis. E por isso deslocava-me a pé até à paragem de autocarro (ainda não havia metro, que uso hoje diariamente), onde por vezes chegava a esperar uma hora, no pior dos casos. E porquê?! Os autocarros até deveriam ter uma periodicidade de 15 minutos. A demora era causada pelo tráfego gerado essencialmente pelos veículos ligeiros que transportavam 1 ou 2 pessoas e que atrasavam os autocarros que poderiam transportar cerca de 50 pessoas.

Será que andar a pé 15, 20, 30 minutos por dia nos vai prejudicar? Até faz bem, e poupa nos ginásios. (Tirando alguns casos de pessoas que não possam mesmo, tipo idosos ou deficientes físicos) Está a chover? Há guarda chuvas e impermeáveis bem eficientes. Tá calor? Os transportes agora até têm A/C. Lugares confortáveis para ir a ler, dormir, ouvir uma musiquinha. Por isso não entendo... Mas isso sou eu, né?

É porreiro sair de casa, de manhã, directo pró carro e do carro para o escritório. Ao fim do dia, do escritório directo pró carro e dele para casa. Ou então do carro pró ginásio para malhar durante 2 horas, que a gente precisa de estar em forma. E já agora deixa-me cá apanhar o elevador ou as escadas rolantes para ir fazer compras pró shopping. Isto é que vai uma crise... de valores!

3 comentários:

Anónimo disse...

Esse "alguém" que respondeu ao teu tweet até fui eu e por isso, para ti, Senhora Alguém, faxavori, que não andei contigo na escola!!! :P hehe

Acho que há aqui alguma demagogia. Tudo bem, consciência social, também gosto de a ter. Mas não deixamos de olhar para os nossos umbigos e o nosso conforto, facto ao qual também não escapas pois até te insurgiste ao contra o facto de haver um dia em que o metro foi gratuito, dizendo que o servido diminuiu de qualidade. Eu ando de autocarro, apanho o autocarro numa paragem mais longe de casa, que me possibilita uma caminhada de 5/10 minutos, conforme a pressa. Indo para a faculdade, mais 5/10 minutos a pé para lá chegar. Eu vou para o ginásio a pé, 20 minutos de marcha. Mas digo-te que as sucessivas molhas que já apanhei, o desconforto que é sair de casa e chegar a ficar sem guarda-chuva quando o vento assim o dita, muitas vezes não compensa tanta consciência social. É a realidade de quem tem que o fazer todos os dias e, ainda assim, não é dos casos mais dramáticos dessa aventura do andar de transportes públicos.

Deveriam ser criadas alternativas realmente capazes de fazer as pessoas deixarem os carros em casa. Eu que moro na área suburbana bem sei da dificuldade das pessoas se deslocarem, dos muitos transbordos que têm que fazer, das imensas horas que muitas vezes se perde entre transportes. Sim, melhorou muito nos últimos tempos, mas ainda assim se prova insuficiente. E a política de traçados do metro do Porto, por exemplo, poderia ser revista, havendo soluções mais vantajosas para a retirada dos carros da cidade, pensando nas áreas para onde as cidades crescem.E além disso o metro ainda tem uma rede pequena, não é ainda solução para muita gente aqui no Porto.

Claro que há muita gente comodista, não sou ingénua também. Mas nem todos os casos são como o teu ou o meu. Ou como esses casos que descreves.

David Pinto disse...

Obrigadíssimo, Senhora Alguém, pelo contributo que deixou neste fórum. Acho que poderíamos começar a pensar em concorrer às próximas eleições. :)

Anónimo disse...

Naaaa, de gente maluca está a política farta! Não vou contribuir para aumentar o monte!

Fico-me pela minha singular e reles vidinha e, de quando em vez, incomodo a vidinha dos meus amigos! E crio postos de trabalho assim, sem precisar ir para o governo, pois dou trabalhinho aos sapateiros de andar a calcantes!!! Até inventarem o dia europeu sem calçado por causa da fricção da sola no chão libertar gases perigosos para a camada do ozono!