terça-feira, fevereiro 19, 2008

Sucinto


Tenho um problema. Sou sucinto. Sim… sucinto. Breve. Conciso. Lacónico. Telegráfico. De poucas palavras. E isso está a dar cabo de mim. Não consigo manter uma conversa. Só algumas frases. Palavras soltas. Monossílabos. Imagino grandes discursos. Planeio frases e conversas extensas. Organizo-me mentalmente de modo a conseguir aguentar as discussões por um tempo minimamente razoável. Argumentos não me faltam. Tenho-os na cabeça. Mas despejo-os rapidamente e fico vazio. Vazio de palavras. Cheio de nada mais.

Enquanto escrevo, sinto que acontece exactamente o mesmo. Aquilo que tinha planeado dizer, fica imediatamente dito. De forma demasiado rápida e directa. Isso não será sempre negativo, mas quase. Gostava de conseguir falar sobre o nada, dizer palavras ocas, encher o meu discursos de bolsas de ar. Bolsas de oxigénio, para poder parar e respirar um pouco. Mas vou dizer o quê? Exactamente o quê? Quando? E como?

Deve ser por isso que gosto tanto de ouvir. Ver também. Mas ainda mais de ouvir. Admiro a capacidade que a maioria das pessoas tem para manter um discurso interessante. Já nem pedia tanto. Interessante ou não, gostava era de conseguir manter uma conversa. Acho que sei ouvir. Mas mesmo isso começo a duvidar. Absorvo o que as pessoas me vão dizendo. Falem comigo sobre cinema, literatura, viagens, música. Com alguma dificuldade, as minhas poucas palavras vão-se soltando. Interessa-me mais ouvir o que as outras pessoas pensam do que partilhar os meus próprios pensamentos. E quando os partilho, as palavras são escassas.

Dizem que os olhos também falam. Já nem isso acredito que os meus consigam fazer. Olhos húmidos, perdidos e afogados no humor. Humor vítreo. Uma tentativa falhada de humor que preenche de forma alternativa as graves lacunas no meu discurso. Se é que pode ser considerado discurso.

Falem-me de emoções. Emoções… Pois.

Tenho mesmo um grave problema. Sinto… mas sou sucinto.


1 comentário:

Anónimo disse...

Talvez concorde, por vezes... Mas de que valeria sermos todos igualmente faladores, todos igualmente deambuladores pelas ideias?

E saber ouvir também é uma arte possivelmente mais difícil que saber falar.

E muitas vezes quem muito fala pouco diz.

És como és. E é isso que é bom. Sem falsas pretensões.

Beijinhos