terça-feira, março 18, 2008

O primeiro impacto

Já passou uma semana desde que aterrei aqui em Luanda. Uma semana de adaptação a esta nova vida. Com novos colegas, novos horários, uma nova rotina. É quase tudo diferente por aqui. O choque inicial, logo à chegada, foi grande. Julgava que vinha preparado para as mudanças, mas apenas aos poucos estou a interiorizar todas estas alterações. Só o trabalho é semelhante. Com as suas particularidades, obviamente, decorrentes da realidade local e das diferentes pessoas que cá trabalham.

A viagem passou rapidamente. Com música, conversa e umas sonecas durante a noite, não foi complicado passar mais de sete horas no avião. Um jantarinho às 23:00 e um pequeno-almoço às 4:00 da manhã nem caíram nada mal e também contribuíram de certa forma para passar melhor o tempo. À saída do avião tudo mudou de figura. Parecia que tinha um peso imenso em cima de mim, tal era o calor, abafado pela humidade. Por momentos imaginei que não iria aguentar ali muito tempo. Mas tinha de continuar. E rapidamente o meu corpo se adaptou aquele clima. Fiquei, portanto, alagado em suor… Fomos levados num autocarro para a gare, para proceder aos formalismos de chegada. Os minutos passaram, talvez uma hora. Não fiquei muito bem com a noção do tempo. Disseram-me depois que até foi bastante rápido. Como seria se não fosse?


Nunca hei-de esquecer aquele primeiro percurso de automóvel pelas ruas de Luanda. Senti que estava noutro planeta. Tudo era estranho para mim. Os carros, imensos e diferentes dos modelos que eu conhecia. As pessoas, muitas que caminhavam ao longo das estradas e outras que vendiam todo o tipo de produtos aos automobilistas que eram forçados a ficar parados nas longas filas de trânsito. O pó ao longo da estrada, que ia sendo contrariado pelos varredores, que apenas o mudavam de sitio. E as casas, ou eram grandes edifícios antigos, deteriorados ou então pequenas barracas feitas de blocos e chapas em zonas de “favelas” miseráveis a perder de vista.


Não sei se terá sido aquele percurso, mas o que é um facto é que fiquei de rastos. Em todos os sentidos, mas principalmente de cansaço. Algumas horas depois estava instalado na minha nova casa. Ar condicionado e uma cama. Foi só isso que vi à minha frente. A manhã ainda ia a meio, mas acho que se tivesse sido possível, teria dormido até à manhã seguinte. Sei que almocei fora com alguns dos meus novos colegas, fui tratar de umas papeladas à empresa durante a tarde e jantei em casa. Mas as memórias são bastante difusas. Recordo que à noite fiquei extremamente aliviado, pois tinha internet em casa. Lenta, muito lenta, mas que lá me vai ligando às minhas raízes em Portugal. É por ela que mantenho o contacto com as pessoas que gosto. É através dela que vos faço chegar estas palavras. É graças a ela que vou estando ligado à civilização. E tentando disfarçar as saudades.


Espero que este primeiro texto tenha servido para mim como um incentivo para actualizar mais regularmente o blog. Os tempos livres não têm sido muitos e os que existem têm sido aproveitados para descansar e moldar-me aos novos horários. Fica desde já prometido, para os próximos dias, um breve relato do meu primeiro fim-de-semana por terras africanas. Entretanto, podem ir vendo algumas das fotografias no meu Hi5 (davidpinto1979.hi5.com). Se forem meus amigos, claro… ;)

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